maio 31, 2013

LEITURA DE FIM DE SEMANA

"As revoluções duram semanas, anos; depois, durante dezenas e centenas de anos, adoram-se como algo sagrado, esse espírito de mediocridade que as suscitou."
                                                                                                        Doutor Jivago 
 
 
Nesta primavera envergonhada e fria, a nossa sugestão de leitura de fim de semana vai levá-lo às gélidas paisagens da Rússia do início do século XX.
 


Do premiado autor russo Boris Pasternak

O Doutor Jivago

Edição do Jornal Público

  



1958, Boris Pasternak a celebrar
o seu Prémio Nobel da Literatura
com a sua mulher
Publicado pela primeira vez em Itália, em 1957, o romance foi rapidamente traduzido em inglês e em francês. E o excelente acolhimento da obra incomodou o regime soviético, que o acusou de traição e o ameaçou de prisão se voltasse a ter qualquer tipo de contacto com estrangeiros. 
A proibição da publicação de Doutor Jivago dentro da União Soviética vigorou até 1989, quando a política de abertura de Mikhail Gorbatchev, então líder da URSS, autorizou a publicação da obra. Somente nesse ano, os russos puderam conhecer a saga de Jivago.
O seu nome já constava da lista de prováveis nomeados da Academia Sueca desde o fim da II Guerra Mundial e em causa estava a sua obra poética. De 1946 a 1950, esteve sempre na "short-list" de candidatos. E voltou a ser colocado em 1957, ano em que o laureado foi Albert Camus, que, aliás, elogiou Pasternak no seu discurso na cerimónia de entrega do prémio.
Os rumores de que Pasternak poderia vir mesmo a ganhar o Nobel da Literatura,  causavam grande incómodo no interior da União de Escritores Soviéticos. E quando foi anunciado o vencedor de 1958 - "pelo seu importante feito tanto na lírica poética contemporânea como na área da grande tradição épica russa" - o incómodo transformou- se em perseguição.
Um dia depois de ter recebido o telegrama da Suécia, começou a aperceber- se dos efeitos do Nobel com a visita de um membro do departamento cultural do Comité Central do Partido Comunista, que lhe ordenou a recusa imediata do prémio, sob a ameaça de expulsão do país. Muitos anos depois, só com eclodir do colapso da ex-URSS, o diploma do Nobel chegou finalmente às mãos da família Pasternak, com o reconhecimento do Ministério da Cultura russo.
 
 
Que espécie de truque sujo é que terei feito,
serei um assassino, um vilão? /
Eu, que deixei o mundo inteiro
a chorar pela beleza da minha pátria”.
                                                     1959, poema de Pasternak, titulado “O Prémio Nobel”



 
O romance relata a vida do médico Yuri Jivago, desde a adolescência até à sua morte em Moscovo. A fuga para a Sibéria com a sua mulher Tonia Groméko, por causa dos acontecimentos revolucionários de 1905 e 1917 e a sua união a um grupo de guerrilheiros em luta contra "os brancos", são alguns dos momentos que se destacam no romance. A sua relação adúltera com Lara, uma enfermeira que se torna o grande amor da sua vida, mas com quem se desencontra várias vezes, por diversos motivos. O romance é uma crítica ao sistema comunista russo e um relato sobre o destino do intelectual russo, aliás, um dos temas importantes do autor. Constitui uma visão panorâmica do período histórico entre 1903 e 1923, decisivo na transformação da Rússia e da Europa.
Em O Doutor Jivago, a revolução é o verdadeiro protagonista; a personagem é testemunha dos acontecimentos aos  quais o destino a conduz.
 
 
 
  


Boris Pasternak nasceu a 10 de Fevereiro de 1890, em Moscovo. O seu pai era pintor e ilustrador de obras de Tolstoy e a sua mãe uma reconhecida pianista, pelo que a sua educação esteve sempre ligada às artes. Estudou Filosofia na Alemanha e regressou em 1914 ao seu país natal para se dedicar inteiramente à literatura.
Nesse mesmo ano, publica os seus primeiros poemas, que no entanto não lhe trazem qualquer tipo de notoriedade. É com a publicação de A Vida da Minha Irmã, em 1922, que o reconhecimento do público lhe será feito.
Durante a II Guerra Mundial, Pasternak vê-se obrigado a trabalhar numa fábrica de químicos, experiência que lhe servirá de inspiração para a sua obra mais famosa, Doutor Jivago (1957), romance com o qual ganhará o Prémio Nobel da Literatura em 1958, que foi impedido de aceitar por pressões do regime soviético.




30 de maio de 1960, Pasternak morreu na sua casa de Peredelkino, sentado no sofá de onde podia observar o retrato do seu mestre Tolstoi, pendurado na parede.
 
 
 
A obra foi adaptada ao cinema, em 1966, pelo realizador David Lean, com o ator Omar Sharif no papel principal e ainda os atores Julie Christie, Alec Guinness, Geraldine Chaplin, Rod Steiger, Tom Courtenay, Siobhan McKenna e Ralph Richardson.
Apontado como um dos 100 filmes mais importantes de todos os tempos, Doutor Jivago, vencedor de cinco Oscares, pode ser visionado por si na Sala de Audio Vídeo.
 
São só boas razões para sair de casa,
dar um passeio, requisitar o livro
 e até, quem sabe, ver o filme.
 
 
Bom fim de semana





 

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